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Oficina propõe criação de políticas públicas para saúde auditiva

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Publicado em:19/11/2008

Na Semana Nacional de Prevenção à Surdez (10 a 14/11), a ENSP realizou uma oficina que propôs a criação de políticas públicas para o setor. Foram debatidas estratégias para a inclusão do diagnóstico do Protocolo de Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) na Política Estadual de Atenção à Saúde Auditiva do RJ, a organização da rede de saúde auditiva no Estado e a portaria que estabeleceu a Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva no país. Foram dois dias de trabalho (13 e 14/11) com três mesas-redondas, sendo os participantes de 17 estados divididos em grupos de trabalho para discutir as experiências dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerests).

A primeira mesa teve como tema a rede de atenção à saúde auditiva e a Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast). Nela, Sérgio Voronoff, da Subsecretaria de Atenção à Saúde da Secretaria Estadual de Saúde e Defesa Civil do Rio de Janeiro, e Lise Barros, do Programa de Saúde do Trabalhador da Sesdec, abordaram a distribuição da rede no Rio de Janeiro e a importância da inclusão do diagnóstico da PAIR no Estado.


A rede de saúde auditiva no RJ

Sérgio discorreu sobre a organização da rede de saúde auditiva. Segundo ele, após a criação da Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva, em 2004, houve uma reorganização das redes de saúde, que passaram a se basear na regionalização e na hierarquização do tratamento. O palestrante lembrou que a rede estadual auditiva é integrada por quatro unidades. A Unidade Básica, porta de entrada dos pacientes; a Unidade de Média Complexidade, que realiza consultas e diagnóstico de perdas auditivas de crianças (acima de 3 anos), adolescentes, adultos, idosos e trabalhadores; a Unidade de Alta Complexidade, que realiza consultas e diagnósticos em pacientes de todas as faixas etárias; e a Unidade de Terapêutica Fonoaudiológica, que realiza ações de reabilitação.

Voronoff revelou que o estado possui uma política bem estabelecida e organizada, estando a rede de saúde auditiva distribuída em seis pólos. A região norte, noroeste, metropolitana II, com Niterói e São Gonçalo; metropolitana I, com Rio de Janeiro; metropolitana, que envolve a baixada fluminense; e Médio Paraíba. Concluiu, diagnosticando alguns dos principais desafios encontrados na rede: “Temos uma política bem estabelecida, mas nem sempre há a possibilidade de implantarmos programas devido a cortes orçamentários estabelecidos por parte de alguns gestores e conflitos entre as secretarias estaduais e municipais”.

No início de sua apresentação, Lise Barros revelou que há uma estimativa de que 25% da população trabalhadora seja portadora de PAIR, e por isso a inclusão do diagnóstico na Política Estadual de Atenção à Saúde Auditiva no RJ é de extrema importância. Ela definiu que a Perda Auditiva Induzida por Ruído é provocada pela exposição por tempo prolongado ao ruído, e seus sintomas podem ir desde a perda auditiva até zumbidos, dificuldades no entendimento de fala, transtornos de comunicação, alterações do sono, transtornos neurológicos, digestivos, comportamentais, cardiovasculares e hormonais.

Diagnóstico da PAIR como estratégia de promoção da qualidade de vida

Segundo Lise, a inclusão do diagnóstico da PAIR na Política Estadual de Atenção à Saúde Auditiva no RJ seria fundamental para desenvolver estratégias de promoção da qualidade de vida da população em geral e particularmente dos trabalhadores expostos a ruídos, alem de organizar uma linha de cuidados integrais (promoção, prevenção, tratamento e reabilitação) aos trabalhadores expostos. “O diagnóstico também facilitará a identificação dos determinantes e condicionantes das principais patologias e situações de risco que levam à deficiência auditiva no trabalho e a integração das ações da política de saúde auditiva com as ações da Renast, no âmbito do SUS, tendo em vista a universalidade e a integralidade”.

Na primeira mesa da tarde, Raul Ibañes, do Cerest do Rio Grande do Sul, comentou as estratégias para implementação do protocolo de PAIR. O palestrante afirmou que a história recente da perda auditiva induzida por ruído no SUS começa em 2002, com a implantação da Renast, e que o objetivo do protocolo é articular, no âmbito do SUS, ações de prevenção, promoção, diagnóstico, tratamento, reabilitação e vigilância em saúde do trabalhador urbano e rural, independente do vínculo empregatício e do tipo de inserção no mercado de trabalho.

"Eficácia das ações do SUS depende da inteligência e da estratégia em descobrir onde estão os casos medievais da perda induzida por ruído".

Na seqüência, Ibañes apresentou cinco situações elaboradas para a implantação das instruções normativas estaduais. A primeira situação trata do caso clássico, no qual a perda é uma conclusão da pressão sonora elevada no trabalho, associada ou não a substâncias ototóxicas. A segunda situação aborda o trauma acústico, enquanto a terceira, o caso provável de perda auditiva induzida por substâncias ototóxicas, tais como solventes, metais, asfixiantes e outros. “A quarta situação contempla as outras doenças do ouvido presentes na Lista de Doenças Relacionadas ao Trabalho, adotada na Portaria nº 1.339/GM, de 18 de novembro de 1999; e a quinta, outras perdas auditivas que venham a ser relacionadas ao trabalho através de estudo, pesquisa e publicação”.

No fim de sua apresentação, Raul destacou a necessidade de realizar o controle da PAIR no mercado formal e informal. Para ele, a eficácia das ações do SUS depende da inteligência e da estratégia em descobrir onde estão os outros casos da perda. “Precisamos descobrir onde estão os casos medievais da perda induzida por ruído, onde não há sequer um equipamento de proteção. Precisamos definir estratégias de como atuar com o trabalhador do campo que possui um trator velho, barulhento, mas que precisa trabalhar na terra. Outra profissão de risco é a dos Dj’s. Também é preciso ter atenção com os Ipod’s. O walkman foi inventado há 25 anos, e ninguém com 40 anos hoje é surdo pelo uso. Porém, a imersão do fone no ouvido é a grande diferença entre os dois aparelhos. Tomara que os surdos não venham com os Ipod’s, assim como não vieram com o walkman. Mas ainda precisamos de estudos”.


Na segunda palestra, Claudia D’Oliveira apontou a necessidade do aumento de notificações de PAIR no Rio de Janeiro. De acordo a fonoaudióloga do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador do Estado do Rio de Janeiro (Cerest), o Rio possui 92 municípios, mas apenas Angra dos Reis possui uma notificação no sistema. A palestrante afirmou ainda que a utilização do termo Perda Auditiva Induzida pelo Ruído não cabe mais, sendo mais adequada a nomenclatura Perda Auditiva Relacionada ao Trabalho. A palestrante também comentou a dificuldade de diagnosticar a perda auditiva. “A pessoa vai se adaptando à nova escuta. É muito difícil administrar os casos, pois, quando diagnosticados, muitos trabalhadores são demitidos de suas funções”.

"A perda auditiva causa a demissão do trabalhador".

Na última mesa de quinta-feira, Vilma Okamoto, do Cerest de São Paulo, abordou o processo do agravo auditivo relacionado ao trabalho. De acordo com sua apresentação, o trabalhador entra sadio no mercado de trabalho e, com o passar dos anos, começa a ter alterações na audição. “A perda auditiva causa a demissão do trabalhador. Em seguida ele procura o SUS para tratamento e prótese, além de processar a empresa. Esse ciclo é cada vez mais comum, e toda a sociedade paga um prejuízo duas mil vezes maior do que se houvesse um investimento na prevenção. Fora o prejuízo imensurável para a saúde do trabalhador.”


Nas duas últimas apresentações, Rosa Maria da Silva Barros, do INSS, comentou o serviço de reabilitação profissional oferecido pelo INSS, que proporciona condições para a reinserção do trabalhador no mercado. Por último, Edna Sacramento, do Sindicato dos Telefonistas, abordou o trabalho que o sindicato desenvolve há 15 anos na prevenção da perda da audição e a falta de prevenção. “O mercado de telemarketing vem crescendo e os jovens entram para garantir o emprego. A perda auditiva não dói, por isso as pessoas não dão tanta importância. Quando percebem o problema, já é tarde demais”.

No segundo dia de evento (14/11), Márcia Soalheiro iniciou as atividades previstas realizando um balanço do evento anterior e apresentando os pontos positivos e negativos dessa edição. Em seguida, detalhou e discutiu os principais aspectos presentes na carta-produto elaborada na I Oficina, realizada em 2006. Dentre os temas abordados, os principais foram: Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast) e Política Nacional de Atenção à Saúde Auditiva (PNASA); Perícia e Reabilitação do INSS; a gestão de programas de conservação da audição; o programa de prevenção de perdas auditivas e a aplicação de normas regulamentadoras. Na ocasião, Márcia também apresentou os Programas Epi-Info e Epi-Áudio desenvolvidos pelo Cesteh. Estes programas têm o objetivo de construir questionários e edição de textos; construir banco de dados, análise estatística e epidemiológica de dados; construir índices antropométricos; calcular o tamanho da amostra, sorteio de números aleatórios e outros recursos. “O nosso compromisso ético é com a saúde do trabalhador, nossa bandeira é a da construção da promoção e da equipe multidisciplinar”, afirmou.


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