Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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Hábitos e comportamentos interferem na alimentação

Até que ponto as formas de pensar, a organização, as crenças e o saber científico da época influenciam a alimentação de uma sociedade? Tais questões foram abordadas pelo sociólogo francês Claude Fischler, da École des Hautes Études en Sciences Sociales (EHESS), na sessão científica promovida pelo Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição da Região Sudeste (Cecan/ENSP), na sexta-feira (9/12). O palestrante citou a influência da ciência no hábito de comer, mas fez uma ressalva: "Os cientistas sempre pertenceram a uma determinada cultura, estão inseridos em uma determinada sociedade e são moldados por uma época. Portanto, esses valores também interferem na sua concepção de saúde". O evento marcou o lançamento do novo site da Rede de Alimentação e Cultura (Rede A&C).


Ao responder a pergunta proposta pela organização do evento ("O que é comer bem?"), Fischler afirmou, segundo a antropologia, que a alimentação clássica de uma população deve considerar sua maneira de pensar, suas crenças e o próprio olhar da ciência em relação a esse conceito. "Todas as premissas de uma boa nutrição estiveram relacionadas aos conhecimentos da época. Há alguns séculos, os conhecimentos sobre alimentação e nutrição afirmavam que os estivadores necessitavam de calorias para repor suas energias. As verduras não tinham tanto interesse, por exemplo. Esse conceito mudou com o passar do tempo", afirmou.

Para ele, a alimentação está cercada de aspectos biológicos e sociais para os indivíduos. "A alimentação e nutrição de determinada sociedade nos permite identificar os determinantes de sua organização", explicou. Logo em seguida, comentou o ato de 'partilhar os alimentos à mesa'. "É normal comermos em grupo, e essa situação nos lembra aspectos de solidariedade. A própria caça implica processos de cooperação. Temos aqueles que irão carregar o alimento, os acompanhantes. Toda essa organização traz regras claras para a divisão da carne no momento da refeição".

Na sequência, Fischler abordou a interferência da tradição no aspecto alimentar. "Somos orientados pela tradição no momento da alimentação. As pessoas dizem que está na hora de almoçar quando o relógio marca 12h30. Porém, se se pergunta o porquê disso, respondem que 'sempre foi assim'. Isso é um marcador da influência da cultura e da tradição na alimentação, não há um pressuposto racional sobre o horário. É tradição, cultura". Em seguida, também falou sobre os dados de uma pesquisa cujo objetivo era saber no que as pessoas se baseavam para comer bem. A grande maioria das respostas, segundo o pesquisador francês, estava relacionada à tradição. "O plano sanitário não tinha a mesma influência. O saber científico é biodegradável, muda conforme o tempo, e temos que levar isso em consideração."


Debatedor da mesa, o pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública Luis David Castiel afirmou que o risco está cada vez mais presente à mesa. Castiel falou sobre a cozinha molecular, questionou o significado do "consumo responsável" e o autocontrole alimentar. Denise Oliveira e Silva, coordenadora da Rede A&C e pesquisadora da Fiocruz Brasília, afirmou que na atualidade há um rigor exagerado em relação ao comer bem. Para a pesquisadora, os aspectos determinantes do excesso de peso são oriundos da ciência. "As boas intenções da ciência nos trazem algumas dúvidas. Vejo com certa dificuldade o rigor da sociedade brasileira ao afirmar que o comer bem é comer nutrientes. Os povos que mais trazem essa característica no seu pensar são os que têm mais problemas com excesso de peso."

O evento também marcou o lançamento do novo site da Rede de Alimentação e Cultura (Rede A&C). A coordenadora do Cecan/ENSP, Denise Barros, apresentou a nova página, falou sobre os quatro anos de atuação da Rede, além do lançamento do livro Alimentação, sociedade e cultura.

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