Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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Pesquisa avalia processos de trabalho de Agentes Comunitários de Saúde

A análise da relação entre morador/profissional com a saúde dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) foi foco de estudos de Eliane Chaves Vianna, do Centro de Saúde Germano Sinval Faria, que serão apresentados no 9º Congresso Nacional da Rede Unida. O evento, que acontecerá entre os dias 18 e 21 de julho, em Porto Alegre, tem o perfil de agregar diversos atores, entre eles, profissionais da saúde, residentes e representantes de organizações comunitárias, do controle social e dos movimentos sociais. Além de Eliane, outros pesquisadores da ENSP também participarão do evento.

Desenvolvidos em conjunto com pesquisadores de outras instituições, os dois estudos da médica, Entre o morar e o trabalhar na comunidade: a realidade de ser ACS e O enigma do trabalhado na fala dos agentes comunitários de saúde, fazem parte de um projeto maior, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), cujo tema é Abordagem Interdisciplinar das Novas Relações de Trabalho: o caso dos ACS.

Segundo Eliane, essa pesquisa faz parte do seu projeto de doutorado em saúde pública, feito na ENSP e orientado pela pesquisadora do Centro de Estudos em Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana (Cesteh/ENSP), Jussara Cruz de Brito. O primeiro estudo propôs a análise das relações entre trabalho e saúde, tendo como foco as atividades do ACS inserido na Estratégia Saúde da Família (ESF), em suas dimensões objetivas e subjetivas relacionadas ao morar e ao trabalhar no mesmo espaço geográfico, que são as comunidades populares do município do Rio de Janeiro. Segundo o texto, 'há urgência em separar as reais condições de trabalho do ACS e seu local de moradia, pela total desconsideração por sua carga elevada de trabalho e sua jornada interminável'.

A pesquisa indica que o trabalho desses profissionais é muito maior do que se vê, se avalia e se conhece, pois é marcado pela subjetividade e imprevisibilidade, que são altamente intensificadas pelo não afastamento mesmo em seus momentos de não trabalho. Ainda de acordo com o texto, 'a sobrecarga de trabalho é clara nessa atividade, embora não seja considerada para fins de prevenção e assistência da saúde desse trabalhador'. Entre outros dados encontrados, a pesquisa mostra a presença feminina maciça nessa atividade (86%), o que reforça o imaginário coletivo que atribuiu a função do cuidador ao trabalho feminino e também o uso de medicamentos para hipertensão e depressão após a contratação pela Estratégia de Saúde da Família.

Já a pesquisa O enigma do trabalhado na fala dos agentes comunitários de saúde propõe 'a construção de uma análise interdisciplinar das relações entre trabalho e saúde, tendo como foco o trabalho do Agente Comunitário de Saúde em suas variadas, complexas e múltiplas dimensões, materiais e simbólicas, objetivas e subjetivas, macro e microestruturais. Seu objetivo principal é compreender o processo de trabalho vivo desse profissional de saúde, identificando as dificuldades e sofrimentos vivenciados e os mecanismos utilizados por eles para darem conta do trabalho real de cada dia'.

De acordo com o texto, 'esta pesquisa demonstrou a necessidade de criação de um espaço de escuta para o agente comunitário de saúde, bem como o repensar sobre suas atribuições e sobre o processo de formação que vem sendo fornecido às equipes investigadas. Isso foi indicado pela fala dos ACS, que indicam uma constante necessidade de transformar suas ações devido às adversidades peculiares da comunidade que trabalham; o baixo salário como ponto de desvalorização das atividades; e a necessidade de um momento de escuta e troca, grupo focal como espaço de desabafo'.

Por outro lado, o texto indica que esses profissionais acreditam na importância das ações de saúde que executam por contribuírem para a melhoria das condições de vida da comunidade; que eles têm prazer em exercer a profissão por poderem levar algum benefício ou ajuda à sua comunidade; e também que têm o reconhecimento da comunidade em relação a seu trabalho como um valioso recurso.

Nos dois estudos, o projeto utilizou, como instrumentos de coleta de dados, oficinas, grupo focal e questionário em duas Áreas Programáticas (AP) do município do Rio de Janeiro, e os ACS participaram de forma voluntária. O estudo revelou também que 'os ACS se sentem desvalorizados em relação à equipe e têm dificuldades em separar e dar limite entre o trabalho e a vida pessoal'.

A maior parte dos entrevistados foi mulheres, representando 86% do grupo; a média de idade ficou entre 25 e 35 anos. A renda familiar de todos gira em torno de um a três salários mínimos, e 73% deles não estavam empregados antes de se tornarem ACS.

O Congresso da Rede Unida terá ampla programação científica e cultural. Seu objetivo é contribuir propositivamente com os processos de mudança no ensino das profissões da saúde e com a educação na saúde, bem como na transformação do modelo de atenção na busca da consolidação do Sistema Único de Saúde em seus princípios e diretrizes. Eles agregam diferentes atores para propiciar o debate em torno da saúde, da educação, do trabalho e da participação cidadã na perspectiva do fortalecimento do SUS.

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