Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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Pesquisa elabora matriz de indicadores para avaliação em saúde

A perspectiva das cidades e municípios saudáveis vem se consolidando como uma estratégia de promoção da saúde desde 1986 e busca fortalecer a colaboração intersetorial, evitando a superposição e fragmentação das ações. Nesta direção, a pesquisa 'Avaliação de ações intersetoriais em saúde', coordenada pela pesquisadora do Departamento de Ciências Sociais (DCS/ENSP), Rosana Magalhães, e financiada pelo Programa de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde Pública (PDTSP) da Fiocruz, visa desenvolver metodologias para avaliação do alcance das iniciativas e estratégias intersetoriais em saúde a partir do estudo da implementação dos programas Bolsa Família e Saúde da Família em Manguinhos, no Rio de Janeiro.

De acordo com Rosana, o principal objetivo do projeto é a construção de uma matriz de dimensões e indicadores capaz de orientar processos decisórios que envolvem profissionais, gestores e técnicos no cotidiano dos serviços em cada contexto local. A pesquisa parte do pressuposto de que é importante combinar o conhecimento sociológico, epidemiológico e geográfico para o entendimento do espaço social não como um conjunto de variáveis isoladas e independentes, mas como espaço em que há interação recíproca entre pessoas, grupos e diferentes recursos. "A saúde é uma questão complexa e dificilmente pode ser alcançada com ações isoladas. Políticas públicas intersetoriais tendem a ser mais efetivas no alcance de mudanças", defendeu ela.

Tendo como ponto de partida os bancos de dados do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF/ENSP), dados do Sistema de Informação da Atenção Básica do Governo (Siab) e também dados oriundos dos próprios programas Bolsa Família e Saúde da Família, o esforço do projeto tem sido mapear condições de saúde e acesso aos programas sociais em três comunidades do Complexo de Manguinhos: Mandela de Pedra, Samora Machel e Parque Oswaldo Cruz visando à construção de um Sistema de Informação Georreferenciada (SIG). "Essas áreas piloto desafiam a lógica tradicional das políticas públicas na medida em que é difícil localizar famílias por meio das formas tradicionais de endereçamento. No projeto, a espacialização das informações sobre as famílias requer o apoio dos Agentes Comunitários de Saúde na medida em que tem um conhecimento aprofundado do território em que atuam".

Outra integrante do projeto, a pesquisadora do Instituto de Comunicação e Informação Cientifica e Tecnológica em Saúde da Fiocruz Mônica Avelar Magalhães, explicou que a construção de SIG permite integrar dados de diferentes fontes e apresentar mapas espacializados que podem servir para localizar eventos de saúde na área, discriminar situações de maior vulnerabilidade e, sobretudo, comparar diferentes aspectos da realidade local. Pelo SIG, também é possível fazer um acompanhamento longitudinal das famílias através da alimentação contínua, integrada e sistemática de dados.

Rosana enfatizou ainda que "a equipe tem enfrentado algumas dificuldades devido à rotatividade de profissionais da Estratégia de Saúde da Família (ESF) e ao confronto entre as lógicas da gestão e da pesquisa, mas essas dificuldades têm sido contornadas na medida em que há um interesse comum no desenho de uma abordagem avaliativa que possibilite a apreensão do território de Manguinhos em toda a sua diversidade e dinâmica". Mônica comentou que o uso de informações georreferenciadas para a delimitação de áreas de risco já é bastante difundido, mas, no cotidiano da gestão local dos serviços de saúde, ainda é reduzido frente ao seu potencial.

Rosana explicou que, a partir da base cartográfica e fotografias aéreas disponibilizadas pelo Instituto Pereira Passos, da Secretaria Municipal de Desenvolvimento da Prefeitura do Rio de Janeiro, as famílias das áreas englobadas no projeto, que inclui a área coberta pela Estratégia de Saúde da Família nessas comunidades, foram localizadas e, a partir daí, receberam um código para serem identificadas pelas equipes da ESF. As variáveis escolhidas para a espacialização foram a inserção no programa Bolsa Família, gestantes beneficiárias do Bolsa Família, moradores hipertensos e com tuberculose.

"Ainda não conseguimos concluir a espacialização, mas esperamos, com o maior envolvimento dos agentes e profissionais da ESF, construir ao final da pesquisa uma ferramenta útil para os gestores e que ela possa gerar importantes aprendizados para o contexto de Manguinhos e também para outros contextos de implementação de ações intersetoriais em saúde voltadas à redução de iniquidades sociais", considerou Rosana.

Mônica constatou também que o fluxo de dados muitas vezes não é informatizado e não permite um acompanhamento sistemático e contínuo de ações e projetos. Além disso, os dados levantados no cotidiano não retornam aos profissionais e gestores de maneira inteligível. Com isso, não são capazes de orientar processos decisórios. Diversas vezes os centros e unidades de saúde desconhecem as múltiplas demandas e necessidades da população ainda que existam montanhas de dados e informações, pois elas não são confrontadas.

O projeto tem a participação de pesquisadores e técnicos do Icict/Fiocruz, que são coordenados por Monica Avelar Magalhães e conta o Centro de Saúde Escola da ENSP na superação dos obstáculos. Além de Rosana e Mônica, o projeto envolve os pesquisadores Regina Bodstein, Celia Leitão Ramos, Willer Baumgarten e Fabio Peres, do Departamento de Ciências Sociais da ENSP; Else Gribel, Elyne Engstrom e Erika Arent, do CSEGSF/ENSP; Roberta Egídio do Icict/Fiocruz; e o coordenador de Projetos Sociais da Fiocruz, Leonídio Madureira. A pesquisa conta ainda com os alunos do programas de pós-graduação da ENSP Angela Virginia Coelho, Cláudia Bocca e Milena Nogueira Ferreira.

Imagem de capa: Os Itinerários terapêuticos da população da região de Manguinhos, de Jaqueline Ferreira e Wanda Espírito Santo. Disponível na Biblioteca Multimídia da ENSP.

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