Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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Evento marca início das atividades do Teias-Escola Manguinhos

A comunidade de Manguinhos passará a contar com 11 equipes de Saúde da Família. A ampliação é resultado da iniciativa Território Integrado de Atenção à Saúde - Teias-Escola Manguinhos, coordenada pela ENSP/Fiocruz. As três novas equipes, que serão incorporadas às oito já em atividade na região, serão recepcionadas em solenidade no salão internacional da Escola no dia 12 de abril, a partir das 13h30. Em seguida, o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Gastão Wagner de Sousa Campos fará a conferência Territórios Integrados de Atenção à Saúde na consolidação nacional da Estratégia de Saúde da Família. Na ocasião, haverá uma homenagem ao pesquisador da Escola Victor Valla, falecido em setembro de 2009. O evento será aberto a todos os interessados.

Segundo a coordenadora do Teias-Escola Manguinhos e pesquisadora da ENSP, Elyne Engstron, as três novas equipes de Saúde da Família passaram por uma ambientação na comunidade e no Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (Csegsf/ENSP/Fiocruz), que teve início em 30 de março. Até julho, informa Elyne, mais cinco novas equipes serão contratadas, totalizando assim 16 equipes destinadas a cobrir toda a região de Manguinhos.

A homenagem a Victor Valla ocorre em virtude da inauguração da Clínica de Saúde da Família, que acontecerá no dia 13 de abril, e receberá o nome do pesquisador. Localizada na Av. Dom Hélder Câmara 1390, em anexo à UPA Manguinhos, a clínica funcionará das 7 às 17 horas, atendendo moradores da região.

Teias - Escola Manguinhos

O Projeto Teias visa constituir, no bairro de Manguinhos, um território integrado de saúde, com um modelo participativo de gestão em saúde, enfocando a intersetorialidade e os determinantes sociais da saúde. O conceito do Teias é uma estratégia de aperfeiçoamento político-institucional, gerencial e de organização da atenção do SUS. A iniciativa é gerenciada pela ENSP, e suas atividades e serviços de saúde da rede assistencial básica na comunidade serão realizadas através do conceito de Território Integrado de Atenção à Saúde.

Essa iniciativa é fruto da cooperação tripartite inédita entre Fiocruz, governo estadual e Prefeitura do Rio de Janeiro, cujo objetivo é a conformação do bairro Manguinhos como um território de atenção à saúde integrada, transformador das práticas da atenção, bem como um espaço de inovação das práticas de ensino e de geração de conhecimento científico e tecnológico, que se traduzam em melhorias da condição atual de saúde e vida da população.

O projeto tem como finalidade integrar as ações de promoção, prevenção e assistência à saúde, reunindo a cobertura de equipes da Saúde da Família, de Saúde Bucal, Centros de Atenção Psicossocial e Núcleos de Apoio às Equipes do Saúde da Família, funcionando como uma pequena rede social e assistencial com ensino, pesquisa e inovação. Sua concepção está associada aos referenciais da promoção da saúde, com ações voltadas para participação comunitária e intersetorialidade para a transformação das condições de vida local. O projeto busca a construção de redes e de um território integrado a partir da constituição da cobertura de 100% da saúde da família. Dessa forma, é possível integrar as ações de promoção, prevenção e assistência à saúde no território de Manguinhos.

Quem foi Victor Valla

Nascido em agosto de 1937, no Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, Valla desembarcou no Brasil em 1964, logo após o golpe militar. Em 1984, incentivado por amigos, prestou exames para professor da ENSP e conquistou o primeiro lugar, dando início a uma trajetória de mais de quarenta anos de engajamento político e de trabalho junto aos pobres, atuando diretamente com os segmentos mais miseráveis da população, conciliando saber científico e experiência popular.

Foi um dos criadores do Centro de Estudos da População da Leopoldina (Cepel), criado entre 1987 e 1988, considerado, segundo ele, um brilhante momento de fusão da vida acadêmica com as aspirações populares, e onde passou a ter contato mais próximo com as comunidades. Em entrevista à Agência Fiocruz de Notícias, disse que o Cepel deveria ser um centro em que os moradores da região obtivessem conhecimento para reivindicar seus direitos e demandas. "Não cabia a nós capacitá-los politicamente, porque a ditadura havia terminado e os partidos bem como a vida política tinham voltado a funcionar normalmente. O papel dos pesquisadores da ENSP era oferecer embasamento técnico sobre questões de saneamento, saúde, educação, além de juntar documentação e propostas sobre esses temas. Eles estavam totalmente à margem da sociedade instituída", lembrou Valla.

O pesquisador também desenvolveu na ENSP um trabalho de vigilância civil, com uma proposta de ouvidoria coletiva, na região da Leopoldina. A equipe da ENSP localizou três centros de saúde como referência. Criou comissões nas quais eram discutidos: o acesso à alimentação, aos serviços de saúde, às condições de vida e à moradia, ao saneamento e a formas que foram desenvolvidas para superar os problemas. Além disso, esteve à frente de disciplinas como 'Globalização e Saúde', voltada para discutir questões como Alca, FMI, Banco Mundial e o que essas instituições têm a ver com saúde brasileira; e Religiosidade popular em saúde, transformada em curso de aperfeiçoamento, com duração de seis meses.

Em 9 de setembro de 2008, o Conselho Deliberativo da Fiocruz aprovou, por unanimidade, a indicação de Victor Vincent Valla para o título de professor emérito da Fundação. Em cerimônia na ENSP, comoveu a todos ao agradecer pelo reconhecimento ao seu esforço em fazer pesquisa sobre as condições de vida e trabalho das classes populares.

Em 2005, lançou o livro Para compreender a pobreza, que aborda as intervenções dos governos nas favelas, dos anos 40 aos 80. A obra mostra como os projetos governamentais propunham mudanças para as favelas. "Mudanças com as quais os moradores não concordavam, porque, como sempre, os intelectuais não têm respostas para eles", afirmava Valla, que fez do correto entendimento dos valores e necessidades das classes menos favorecidas sua razão de viver.

Em 2001, sofreu um acidente vascular cerebral (AVC), que o afastou das comunidades, mas se esforçava quando sua presença era necessária. "Gosto do contato com as pessoas humildes. Isso faz parte de uma proposta de pesquisa e vida", comentava. Durante esse tempo, Valla continuava trabalhando em sua sala no Departamento de Endemias Samuel Pessoa e era visto com frequência nas atividades e cerimônias realizadas na ENSP.

Victor Valla morreu de insuficiência cardíaca aguda. Deixou viúva, a fotógrafa e artista plástica Kita, e quatro filhos de dois casamentos.

Com informações do Especial sobre a vida e a trajetória de Victor Valla, da Agência Fiocruz de Notícias.

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