Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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Centro de Saúde apresenta estudos sobre atenção primária para idosos

O Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF/ENSP/Fiocruz) está em processo para se tornar uma unidade piloto do projeto Centro de Saúde Amigo do Idoso, desde 2006. A proposta, da Organização Mundial da Saúde (OMS), foi um dos destaques da sessão científica que o Centro de Saúde Escola realizou na quinta-feira (10/09). A geriatra e pesquisadora Valéria Lino falou do instrumento da OMS de avaliação geriátrica para atenção integral à saúde do idoso na atenção básica. No segundo momento da sessão, a pesquisadora Luciana Alves apresentou dados sobre o envelhecimento populacional no Brasil e dois estudos sobre a abordagem da atenção primária em saúde para idosos pré-frágeis.

O projeto Centro de Saúde Amigo do Idoso tem como prioridade a capacitação de profissionais para abordagem da saúde do idoso e para o reconhecimento de necessidades especiais de atendimento a esse público. Em fevereiro de 2007, o Centro de Saúde Escola da ENSP deu início à capacitação de médicos, agentes de saúde e profissionais de nível médio e superior para identificação, diagnóstico e tratamento de problemas de saúde que acometem os idosos. Outra exigência da OMS é a adequação do espaço físico às necessidades especiais do idoso a partir de melhorias na sinalização do espaço, na iluminação e no acesso à unidade de atenção primária.

Segundo Valéria Lino, a primeira medida a ser tomada foi a adaptação transcultural do questionário de rastreamento da OMS. "Para obter resultados mais próximos da realidade foi preciso adequar o instrumento ao contexto cultural do país, levando em conta problemas como a baixa escolaridade, a falta de saneamento básico em certas localidades, a falta de controle das doenças infecciosas, entre outros problemas". Nesse sentido, questões relativas à memória, às capacidades funcionais, aos problemas de adesão ao tratamento e à interação social do idoso foram incorporadas ao instrumento da OMS.

A etapa seguinte à aplicação do questionário foi a capacitação dos profissionais de saúde para reconhecer as especificidades do tratamento dos idosos por meio de 20h de aula. Em seguida, foi feito um estudo de campo em duas partes: uma triagem simples dos idosos e uma ampliada. A triagem simples consistia em dizer o nome de três objetos para cada idoso e pedir a eles que repetissem quais os objetos eles tinham memorizado. O idoso que não conseguisse lembrar o nome dos três objetos passaria pela triagem ampliada, onde além da memória, as capacidades funcionais e mentais, a mobilidade, a depressão e problemas de incontinência urinária seriam avalliados.

Para mapear os resultados e enviar um relatório de resposta à OMS, a pesquisadora montou grupos-focais com profissionais de nível médio e superior para discutir os benefícios e os obstáculos do projeto da OMS. No que se refere à capacitação, os profissionais demonstraram muita confiança na utilização do instrumento da OMS, mas afirmaram ter encontrado problemas para a avaliação de problemas visuais dos idosos através do Cartão de Snellen. O grupo alegou também ter adquirido maior conhecimento sobre o envelhecimento e seus problemas. Já a carga horária da capacitação foi considerada insuficiente, necessitando de maior tempo de treinamento para o uso dos protocolos e dos instrumentos de avaliação.

Valéria apresentou também alguns questionamento dos profissionais para salientar os resultados do uso do questionário da OMS e da capacitação para o atendimento ao público idoso. O isolamento social apareceu como um dos grandes problemas encontrados no tratamento. "O isolamento social passou a ser problema de saúde, assim como o analfabetismo", explicou Valéria. Outro ponto destacado pela pesquisadora foi a percepção do grupo de que para promover a saúde do idoso é preciso estar em contato com a família e a comunidade. Desse modo, o ambiente físico passou a representar uma das maiores preocupações dos profissionais.

Nas considerações finais, Valéria aprovou a idéia da OMS de que a melhor forma de promover a saúde do idoso é nas unidades de atenção primária. "A equipe matricial é um grande passo na reabilitação do idoso. Ficou provado que se nós tivermos suporte, conseguimos melhorar a vida dos idosos e essa qualidade de vida está ligada à funcionalidade, a sua independência." concluiu a pesquisadora.

Abordagem da atenção primária em saúde para idosos

Após a apresentação de Valéria, foi a vez da pesquisadora Luciana Alves apresentar dois estudos sobre a abordagem da atenção primária em saúde para idosos pré-frágeis. Luciana apresentou dados do IBGE sobre a situação do idoso no Brasil. Segundo o Instituto, a população com 60 anos ou mais no ano 2000 correspondia a 8,6% da população total e as projeções apontam para 12,9% em 2020. A justificativa para esse panorama é um declínio rápido e intenso na taxa de fecundidade. Em Manguinhos, no ano 2000, os idosos correspondiam a 6,4% da população.


Luciana explicou ainda que a fragilidade é uma das grandes mudanças gerontológicas enfrentadas por uma população em rápido processo de envelhecimento e uma das grandes responsáveis pelas internações de pacientes com mais de 60 anos, pela incapacidade funcional, pelas quedas e pelo desenvolvimento de algumas doenças crônicas. A pesquisadora afirmou ainda que a fragilidade está diretamente relacionada a outros fatores como sexo, renda, autopercepção da saúde, depressão, dentre outros. Para tentar reverter o quadro, a literatura científica aponta os exercícios físicos como grandes aliados na prevenção da fragilidade, uma vez que aumenta a força muscular e melhora o equilíbrio, sendo considerada uma estratégia importante, além de possuir baixo custo.

Após destacar os benefícios expostos na literatura, Luciana apresentou o "Estudo piloto para abordagem de idosos pré-frágeis na atenção primária". O estudo partiu de um universo de 20 idosos escolhidos a partir de critérios de inclusão em situação de fragilidade. Tais critérios eram: queixa de fraqueza e cansaço por mais de um mês, distúrbio na mobilidade, perda de peso não-intencional de pelo menos 5% nos últimos seis meses; e o relato de duas ou mais quedas nesse mesmo período. Aqueles que afirmassem ter tido um ou dois desses sintomas na entrevista estariam dentro do grupo de estudo. Apenas seriam excluídos os idosos em situação de fragilidade (com três ou mais dos sintomas acima), aqueles que não possuissem condições de chegar ao Centro de Saúde Escola, os que tivessem déficit cognitivo e prejudicasse a compreensão das orientações dos pesquisadores e os portadores de doenças agudas.

A intervenção se deu a partir da prática de exercícios físicos duas vezes por semana durante 32 sessões e o desempenho físico funcional dos idosos foram avaliados antes e depois da intervenção. O estudo mostrou melhoras significativas na velocidade da marcha, no equilíbrio, na mobilidade e no tempo de levantar do solo o que levou a pesquisadora a concluir que os idosos pré-frágeis apresentaram melhoras significativas em seu desempenho físico após as 32 sessões de exercícios.

Luciana apresentou ainda outros dois projetos sobre fragilidade que serão desenvolvidos no Centro de Saúde Escola. O primeiro, chamado "O efeito de um programa de exercícios físicos em idosos pré-frágeis atendidos em uma unidade de atenção básica", irá investigar os efeitos de um programa de exercícios físicos ao final e aos 3 meses após o término da atividade em idosos pré-frágeis. Os idosos submetidos à intervenção serão comparados com os idosos do grupo controle. O projeto tem uma previsão de término em outubro de 2010.

Já o "Estudo longitudinal das condições de pré-fragilidade e fragilidade dos idosos residentes em comunidade atendida por unidade de atenção básica no município do Rio de Janeiro" vai focar suas investigações na transição do estágio de pré-fragilidade para o de fragilidade. Segundo Luciana, o estudo vem suprir uma lacuna em que pouco se conhece sobre os determinantes nessa transição e as estratégias que possam minimizar ou retardar esse processo. "Estudos longitudinais são importantes e indispensáveis para o melhor entendimento dos fatores de risco para a condição de fragilidade", afirmou a pesquisadora. A ideia é auxiliar no planejamento de políticas públicas na adoção de estratégias preventivas e na elaboração de ações de saúde mais adequadas.

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