Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca

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Pesquisa mostra caminhos em busca do acesso à saúde percorridos pelos moradores de Manguinhos

Itinerários terapêuticos são os caminhos percorridos pelo indivíduo na busca de solução para os seus problemas de saúde. Esse foi o foco da pesquisa, realizada por Jaqueline Ferreira e Wanda Espírito Santo, ambas do Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF/ENSP), com a população residente na comunidade de Manguinhos. Os resultados preliminares do estudo foram apresentados em uma sessão científica na quinta-feira (18/06), no Salão Internacional, e revelaram, entre outros pontos, que não existe um modelo único de itinerário para os moradores, ou seja, suas escolhas vão desde as opções biomédicas existentes até recursos religiosos.

A pesquisa ouviu 26 moradores de todas as comunidades cobertas pela Estratégia de Saúde da Família em Manguinhos, sendo 23 mulheres e 3 homens, com mais de 30 anos, residentes há, pelo menos, cinco anos na região, e propôs-se a compreender as lógicas acionadas na busca dos recursos de cura da população morando no complexo de Manguinhos, observando seus itinerários terapêuticos, levando em consideração suas histórias individuais, seus pertencimentos culturais e étnicos e sua inserção na comunidade. Percebeu-se que a maioria dos entrevistados possuía o primeiro grau incompleto, com renda familiar entre um e dois salários mínimos e procedentes da região Nordeste. "Quase todos disseram vir para o Rio de Janeiro em busca de trabalho e qualidade de vida, bem como de melhoria de acesso à saúde", informou Jaqueline Ferreira.

A formação de redes sociais foi um dos pontos explorados durante a pesquisa com os entrevistados. Dos 26 moradores, 72% possuem familiares habitando em Manguinhos, o que estabelece uma rede densa de solidariedade. Muitos afirmaram que gostam de morar na comunidade, mas queixaram-se da dificuldade de sair do local para outros locais - por conta da renda -, e de não receberem a visita de amigos em razão da violência. Além disso, a falta de lazer para as crianças foi relatada como um problema, e sendo principais fontes de informação e divertimento a televisão e o rádio.

Ao abordarem a questão do itinerário terapêutico, o grupo de pesquisadores constatou que os remédios caseiros e chás figuram como o primeiro recurso, além de medicamentos alopáticos como analgésicos, vacinas. "Raramente os entrevistados buscam o recurso biomédico diante dos primeiros sintomas e sinais de doença. Verificamos também que os recursos religiosos acabam sendo complementares à biomedicina", explicou Jaqueline. O consumo dos serviços de saúde por parte dos entrevistados depende de três questões: disponibilidade dos serviços, a localização geográfica e as reais necessidades de saúde. Entre os problemas mais citados para esse consumo estão hipertensão, diabetes, infartos, AVC, bronquite, além de problemas oculares e de coluna vertebral.

Fo observado também na pesquisa que a distância não é motivo para a procura para um atendimento, uma vez que foram diversos os locais citados pelos entrevistados. Além do Centro de Saúde, hospitais como Fundão, Andaraí ou Servidores são procurados pelos moradores para um melhor cuidado da saúde. Essa procura por outros locais também pode ser explicada pelo bom atendimento que essas pessoas têm pelos profissionais de saúde. A pesquisa revelou ainda que os moradores não conseguem entender a lógica de funcionamento da Estratégia de Saúde da Família, mas não por falta de explicação dos profissionais, e sim por ser uma política nova para eles. "Quase sempre, as queixas remetem-se aos problemas gerais e estruturais da ESF, pois os profissionais individualmente são elogiados", destacou a pesquisadora.

Dentre as conclusões preliminares do estudo, tanto Jaqueline Ferreira quanto Wanda Espírito Santo destacaram que, apesar de não existir um modelo único de itinerário, as escolhas são plurais (religiosas, caseiras, serviços de saúde) e complementares. Vários fatores de ordem situacional e relacional influem nas escolhas terapêuticas pelo indivíduo doente. "A pesquisa corrobora outros estudos que mostram como um indivíduo pode acionar diferentes recursos de cura ao mesmo tempo dentro de uma lógica de complementaridade. Um exemplo frequente é a busca concomitante do recurso biomédico e religioso", concluiu Jaqueline.

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