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Tuberculose: fatores físicos, sociais e culturais influenciam abandono do tratamento

A tuberculose afeta mais de 2 bilhões de pessoas em todo o mundo, matando aproximadamente três pessoas por minuto. No Brasil, onde se estima haver cerca de 50 milhões de infectados, com surgimento de cerca de 100 mil novos casos por ano, a doença causa quase 6 mil mortes anuais. O quadro é preocupante e poderia ser evitado, pois o tratamento da doença, feito à base de antibióticos, é 100% eficaz, caso seja cumprido à risca durante seis meses. O problema é que nem sempre os doentes conseguem dar seqüência ao tratamento.

"Por que razão as pessoas abandonam o tratamento de uma doença tão grave e que, no caso do Brasil, é realizado gratuitamente pelo SUS?". Expor algumas das respostas a essa pergunta foi o objetivo da psicóloga e antropóloga social Helen Gonçalves, da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), que apresentou a palestra 'Tuberculose e adesão: um desafio constante' na sessão científica realizada pelo Departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde e pelo Programa de Epidemiologia em Saúde Pública da ENSP, na segunda-feira (30/06).

No evento, coordenado pelas pesquisadoras Dora Chor e Silvana Granado, Helen discutiu inúmeros aspectos de uma pesquisa que realizou, em 1973, com 50 pacientes do setor de Tisiologia do Centro de Saúde de Pelotas, muitos dos quais haviam abandonado o tratamento ou ingeriam os medicamentos de forma diversa da prescrita. "Em 1999, o tratamento supervisionado de pacientes com tuberculose (DOTS) foi oficializado pelo Ministério da Saúde, mas, ainda hoje, o índice de abandono do tratamento da doença é muito alto, fazendo com que a taxa de cura no país seja de apenas 81%", comentou Helen, justificando a importância de se mostrar que a não-adesão ao tratamento está relacionada ao contexto de pessoas e situações que elas não querem que sejam modificadas ou questionadas: "É preciso que os médicos e demais profissionais tenham em que se agarrar para ajudar os pacientes".

Para ela, a não-adesão ao tratamento da tuberculose vem sendo atribuída a inúmeras causas, dentre as quais: os efeitos colaterais dos medicamentos, o custo indireto do tratamento (gastos com passagem, etc.), a falta de suporte da rede social, a interpretação da doença e o conhecimento, atitudes e crenças referentes ao próprio tratamento. "A melhora apresentada nos primeiros três meses do tratamento, também contribui para o abandono", completou.

De acordo com Helen, os profissionais devem saber que para os doentes, geralmente oriundos das classes mais pobres e menos escolarizadas, a tuberculose depende de inúmeros fatores que nem sempre respeitam a lógica biomédica. "Portanto, não basta somente medicar, mas é primordial que eles avaliem, nos retornos, as implicações da doença na vida cotidiana de seus pacientes e que considerem as diferenças de pensamentos e de atitudes entre pacientes homens e mulheres, casados e solteiros, ou ainda, desempregados e trabalhadores", explicou a palestrante, destacando: "De forma geral, foram os homens separados ou solteiros que apresentaram mais dificuldade para alterar seus hábitos e atitudes e mais facilidade para abandonar o tratamento".

A pesquisadora encerrou sua palestra, lembrando que, no imaginário dos doentes, obedecer à prescrição dos medicamentos significa concretizar a doença e também efetivar as limitações físicas, mentais e sociais que ela impõe. "Ao manipular o tratamento, as pessoas criam sua própria forma de lidar, da maneira que acham mais conveniente, com os aspectos e as características mórbidas de que são portadores, ainda que ela seja contrária a uma cura nos moldes do Plano Nacional de Controle da Tuberculose", concluiu.

No debate que se seguiu, um dos pontos abordados foi a falta de interesse da indústria em desenvolver novos medicamentos capazes de curar a tuberculose - uma das chamadas doenças negligenciadas, que atinge principalmente os países mais pobres - mais rapidamente e com menos sofrimento para os pacientes.

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